terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ópera Nuda 2013


Ópera Nuda parte de uma exploração recente da artista no uso da produção de sonoridades e linguagens possíveis, onde ação e sonoridade acontecem em tempo real. Daí que a confluência de linguagens como o teatro, a dança, música e performance nesse trabalho podem ser pensadas não só como um tensionamento de possibilidades do corpo da artista como de metáforas como violência, sexualidade, futilidade e esgotamento de possibilidades que aparecem para pensar a precariedade do corpo, bem como, explode a definição da linguagem artística em suas gavetas de especificidade, assim, essa proposta transborda a noção de forma e propõe "personagens mínimos em série" que constrange e/ou tensiona nossos valores de civilidade. 
Essa criação é também uma parceria com Washington Drummond. O trabalho ainda em processo de criação é uma performance adaptável a diversos ambientes, desde palcos fixos a festas e/ou galerias. Nele, explora-se o uso da emissão vocal com um microfone, a fim de produzir uma língua "inventada", disforme e pouco compreensível, entoada por vezes como ópera, produzindo uma corporalidade que transita entre submissão/subversão “tudo superfície trágica” de um diálogo fictício com a famosa "boca de Beckett" (peça de Samuel Beckett, "NOT I" - 1973). A partir disso, as ações vão se desenvolvendo criando metáforas múltiplas e as vezes improváveis dessa relação Boca - Voz - Movimento. O corpo da performer está quase sempre de costas para o público, as emissões vocais são constantes e o esgotamento corporal reverbera na quase impossibilidade de movimento e de fala, e desse processo, se presentifica a debilidade e impotência do corpo.









Fotos: Ricardo Fernandes


terça-feira, 27 de março de 2012

Fricção 2012

 Teatro Gamboa /
Teatro do Movimento - UFBA






FRICÇÃO EM BERLIM

ATRAVÉS DO PROJETO TEIA e RAT(RESIDÊNCIA ARTÍSTICO TEMPORÁRIA) COM O COLETIVO TEIAMUV. SETEMBRO DE 2011 - Eschschloraque Rümschrümp http://www.eschschloraque.de/


Trecho final de Fricção em Berlin 2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Fricção - Projeto Quarta que Dança 2011

16.11 Cine-Teatro Solar Boa Vista, 20 horas, R$ 2 (inteira) 23.11 Centro Cultural Plataforma, 20 horas, R$ 2 (inteira) 30.11 Sala do Coro do TCA, 20 horas, R$ 2 (inteira) http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/qqd/2011/friccao.html

sábado, 23 de abril de 2011

Crítica no Jornal A Tarde sobre Fricção: Quando esse olho vê: corpo, guerra, dor e erotismo no espetáculo “Fricção”






publicado em 22/04/2011
A tarde, caderno 2+
Milena Britto – Professora adjunta da Universidade Federal da Bahia

O espetáculo “Fricção”, concebido e performatizado pela coreógrafa e dançarina Isaura Tupiniquim, traz à discussão os corpos tensionados por forças trágicas e uma condição da platéia: o voyeurismo.
Com o corpo sendo a passagem de tudo, a técnica de Isaura está ali, aprimorada pela sua trajetória no balé e dança moderna, mas as experiências que deixam o corpo em “estados de” são o que tornam os seus movimentos efetivos, viscerais.
O aspecto conceitual - desenvolvido junto ao filósofo Washington Drummond- revela a profundidade da performer: as referências para esse corpo tensionado em camadas históricas estariam da filosofia à midia; com entradas marcadas pelo erotismo de Bataille, pelos registros de guerras, por uma certa plástica hitleriana, pelo dadaísmo da banda alemã Einstürzende Neubauten, o neosurrealismo de um filme como Eraserhead, de David Lynch e, no centro de tudo, a estética “tecnológica” das máquinas desse tempo de guerras.
Há beleza em seus movimentos de homem-máquina, em seu balé sutil, em seu arquear falsamente desengonçado, o seu gênero que se indefine e se subjetiva ao mesmo tempo. Há dor, solidão, angústia, surpresa, medo.
A iluminação é assinada pelo design de luz Márcio Nonato, artista que tem uma trajetória junto ao grupo pluriartístico Dimenti. Márcio acentua os sentimentos do corpo em foco captando detalhes e deixando-os suspensos, próximos à platéia; por outro lado, desde fora, o corpo em cena e os movimentos agigantam-se.
O voyuerismo selvagem vai sendo atacado e, ao mesmo tempo, recuperado como parte de um processo criativo. O dispositivo de espionar é parte de uma maquiavélica relação entre os sujeitos.
A perversão disso é o que definiria a condição “humana” ou “desumana” do corpo especulado. Especialmente aquele em meio a guerras; as de hoje, brutalmente bélicas ou invisíveis, e, mais atrás, o que aconteceu nos campos de concentração, as marchas espetaculares de exércitos, a dança dos canhões, o balé dos soldados, o sexo desprezado e pervertido, as violações e profanações do corpo, o sangue – ou o leite - derramado em nome da paz: todas as guerras que estão em nossa memória coletiva, toda a versação institucionalizada da História da Moral.
O cenário é mínimo. O figurino tem força nas “próteses” desenhadas por Gaio Matos. O fetiche, o uniforme, a máquina são signos elaborados com pouco, num grande acerto do artista.
A ambientação sonora, operada pela Dj Lívia Losd, joga-nos nas geografias desérticas dos campos de guerras, das prisões, no silêncio espantoso de corpos que desaparecem e ressurgem. Agudamente administra os sentimentos da performer através de uma combinação de efeito musical que exaspera a platéia e conduz os movimentos ajustando-os aos sentidos.
Com a base na música conceitual da banda Einstürzende Neubauten, os efeitos criados são sempre únicos, aventando-se em cada espetáculo outra possibilidade de dizer o mesmo. Os vidros, os metais, as correntes que se arrastam, o eco de batidas secas ou desordenadas, a ópera, o silêncio... sob a música, corpo e mente são prisioneiros da experiência, não sem resistência. Estamos friccionando e friccionados e a Dj capta bem esse processo no palco e fora dele.
As transições de cenas são também de sentimento e de experiência. O corpo pode ser máquina, mas ele vai se descobrir humano e outra vez se converter em máquina. Camadas de processos históricos.
Isaura Tupiniquim traz para a arte contemporânea da terra diferença com profundidade. Arrisca bastante, aliás, o risco tem sido a sua marca nas performances assinadas por ela, que pesquisa o corpo em seus entraves contemporâneos, nessas tensões onipresentes em nosso tempo. Ela recusa-se à paz e à beleza contemplativa, exaspera-se, convulsiona-se em cena. Ela transita nos depósitos de restos de corpos modificados pela história dos conflitos, metáfora para aquilo que restou de nosso sonho de progresso.
Alguns poucos momentos saíram do eixo, em transições muito longas, uma marca do espetáculo. Algumas vezes, um movimento transicional tarda muito e se repete, retirando um pouco aquilo que seria parte da mesma história: a surpresa. Um corpo pode ser transformado também de maneira fulminante, como um braço que se vai com uma bomba ou um orgasmo que faz o rosto retorcer-se em segundos.Por outro lado, alguns momentos desses são a jóia da cena.
Irônica, a artista concede um momento de beleza plástica mergulhada em audácia: compõe com fragmentos de sentido, iluminação e forma, uma imagem viva, um quadro Batailliano - aliás, a “História do Olho” está presente numa referência plástica na cena final do leite. O espetáculo tem nos dois “finais” um ápice contraditório: enquanto uma imagem viva de seu corpo se ergue pelo sentido da grande ironia, um derrière virado à platéia nos largos segundos que a iluminação eterniza, o ato rege a liberdade daquele ser recém autônomo; e, para encerrar o triunfo de ter deixado o expectador preso até ali, de presente para a platéia uma prova de seu próprio veneno, imagens trágicas, fechando o ciclo daquele acordo: o voyeur que invade a privacidade, que consome as guerras, as cenas midiáticas das tragédias é o mesmo que espiona feliz e excitado o sexo do outro pela fechadura. Perversão na dor e no erotismo. Bom espetáculo!


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Fricção - teatro de operações

Nesse momento a sociedade contemporânea vivencia a experiência de uma guerra interminável que não mais se dá no conjunto dos países como na 1ª e 2ª guerra, estágio ultrapassado do guerrear, mas na permanência da uma guerra fragmentada e contínua espalhada por todos os continentes. Embora, alguns conflitos bélicos ganhem destaque e conhecimento mundial, sobrevive às escuras uma miríade de pequenos conflitos nos confins do globo e sem projeção midiática. Estes não alcançam o status de notícia globalizada, salvo se apresentam algum massacre que sirva para a boa-consciência dos sem-guerras.

Para a maioria dos cidadãos contemporâneos a arte da guerra é completamente desconhecida e mesmo as suas atualizações estratégicas e tecnológicas nos passam despercebidos, pois este é um saber para especialistas. Entretanto, sofremos um outro tipo de guerra: o bombardeio incessante de imagens midiatizadas e espetaculares desses conflitos. Por mais distantes que pareçam, devido ao estágio cultural tátil em que vivemos, suas imagens nos acediam. Essa é nossa única e interminável guerra: o convívio conflituoso com essas imagens de horror que se impõe como pão nosso de cada dia. O ambiente das imagens reprodutíveis, descontextualizadas, circulando sem fim, de tela em tela, é o nosso front e o desafio que se impõe será interpretá-las, interpelá-las com todas as armas que pudermos agenciar. Do contrário estaremos submetidos a esse regime de imagens frias de medo e violência.

O trabalho de dança Fricção se insere de uma maneira renovada nessa peleja, apresentando suas armas concebidas esteticamente. O que nos mostra é que esse processo de decodificação e desafio frente a essas imagens não só está em andamento mas que será impossível nos furtamos desse embate. O campo estético em que ele se encontra e se movimenta é o da reapropriação das imagens bélicas, flagrando-as em associações que antes nos eram estranhas: belicismo, erotismo, corporalidade, dança, performance... Antes de uma vitória ou do campo pacificado e triste de uma derrota a obra se coloca em suspensão e risco, instaurando um campo de luta ou, como no jargão bélico, um teatro de operações, quando a performer em sua simulação estética joga com nosso próprio destino, a saber, o enfrentamento solitário dessas imagens terríveis.

Por Washington Drummond*

*Doutor em Arquitetura e Urbanismo, (PPGAU-UFBA), com Bolsa Sandwich CNRS/Laios – Paris. Leciona História Contemporânea e Teoria da História na Universidade Estadual da Bahia, Professor-Colaborador do Programa de Pós Graduação em Crítica Cultural – UNEB e do Programa de Pós Graduação da FAU-UFBA.